À minha futura engenheira (ou Por que as empresas devem se preocupar com as tendências do mercado)
- Júnior Rodrigues
- 1 de abr. de 2017
- 3 min de leitura

Há aproximadamente uns 5 anos, comecei a influenciar na escolha do curso universitário de minha filha. Não vivíamos tamanha crise política e financeira no nosso país. Os mercados de petróleo e gás, automobilístico e construção civil estavam no auge. O Rio de Janeiro vivia grande fase econômica. Tempos idos...
Sempre acompanhei as tendências do mercado, e com frequência surgiam pesquisas que apontavam a defasagem do mercado brasileiro quanto ao cenário mundial, informando que seria necessário formar cerca de 60 mil engenheiros por ano, para suprir a demanda de crescimento. A escolha Minha filha respondia bem aos estímulos matemáticos, demonstrava certa facilidade em química e física. Dados os ingredientes, receita pronta: o caminho seria engenharia. Mais ainda. A disciplina de mecânica se apontava como o destino óbvio, adicionado o tempero dos salários mais atrativos ainda para tal especialidade. Então a crise veio. Os referidos mercados foram diretamente atingidos, principalmente por escândalos de corrupção, queda abrupta na procura por bens de consumo, bem como pela redução dos investimentos por parte das empresas, dada tamanha desconfiança no cenário político e econômico. Perspectivas E agora? Tal aposta profissional foi em vão? Há motivos para desespero? Creio que não. Embora minha filha ainda não tenha alcançado a metade do tempo da graduação e, portanto, não sofra do desemprego que milhões de brasileiros estão sofrendo, há muitas perspectivas pela frente (mesmo que no curto prazo a economia não tenda a ter melhoras tão significativas). O mercado brasileiro tem dado leves sinais de melhora, novas tendências e tecnologias têm surgido, bem como o cenário futuro tende a trazer uma série de especialidades hoje nem imaginadas. Várias profissões que se destacam no mercado atual mal existiam há cerca de 5 anos. Desenvolvimento de aplicativos, profissionais de big data, especialistas em nuvem ou de marketing digital. Tudo isso soaria como ficção numa conversa de bar há pouco tempo. Era digital Notem que os exemplos mencionados remetem muito a era digital e as evoluções tecnológicas, as quais permitiram o surgimento de tais profissões. Sendo assim, não há como fugir dessa tendência. E cada vez mais esses elementos se intemeiam à vida cotidiana, trazendo uma integração cada vez maior entre máquinas, sistemas e os indivíduos. Surge, portanto, a chamada quarta revolução industrial, a Indústria 4.0, que se refere a algumas tecnologias para automação e troca de dados, assim como utiliza conceitos de Sistemas, Internet das Coisas e Computação em Nuvem. A robótica já é parte inerente da Indústria há um bom tempo. E podemos adicionar, ainda, elementos como Inteligência Artificial e Machine Learning para que se vislumbre um mundo totalmente novo adiante. Remetendo ao gancho da engenharia mecânica, uma grande tendência apontada pelo VDMA (uma associação européia dessa área de conhecimento) é o network production, permitindo que novos serviços e máquinas em rede sejam desenvolvidos. Isso faz com que empresas de software, telecom e infraestrutura trabalhem em conjunto com as indústrias para fornecer soluções cada vez mais rápido e aderentes a essas necessidades. Sustentabilidade Por outro lado, a grande preocupação quanto ao aquecimento global e ao uso de energias renováveis faz aumentar a busca por soluções ambientalmente sustentáveis, e isso não deve ser preocupação exclusiva dos engenheiros formados na área ambiental. Os profissionais da disciplina de mecânica devem enfrentar o desafio de buscar tecnologias e processos produtivos cada vez mais eficientes em termos de energia que permitam a sustentabilidade da indústria. Essa transição energética e o desenvolvimento do mercado de energia também são fatores extremamente importantes para as indústrias, e devem ser adaptados para o futuro de forma tal que possa existir uma concorrência leal. Esta é a única maneira pela qual a proteção climática pode ser feita na área de engenharia mecânica. Mas e as empresas? Ambos os aspectos, sejam as evoluções da era digital e da automação, sejam as novas tecnologias energéticas, são elementares para uma gestão corporativa voltada para o futuro no setor de engenharia mecânica e continuarão ganhando cada vez mais importância. Mas o que eu, administrador formado e executivo da área de projetos e processos, tenho a ver com temas da engenharia mecânica? Tudo! Pois, além de preocupado com o mercado de trabalho para o futuro da minha filha, esses temas devem ser foco de toda e qualquer organização que queira sobreviver num mundo cada vez mais competitivo. E a escolha do curso para a minha filha foi só uma desculpa para falar da importância desses temas.
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